quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Pai, afasta de mim este comodismo





Quando não podíamos falar foi quando mais gritamos.

Quando não tínhamos voz foi quando mais falamos.

Quando não nos era direito o voto, nós desejamos, como uma criança deseja a chegada do Natal, com aquela esperança de que uma noite traga toda magia que a vida inteira não teve.
Quando éramos poucos, éramos unidos e movíamos o mundo que nos pertencia com tons e versos. Ah, Chico, afastamos o cálice, mas aprendemos apenas a reverberar poucas ideias velhas, ultrapassadas. Nos acomodamos em nossos sofás, no conforto de nossas casas caríssimas de conforto de terceiro mundo.

Como é feliz essa tal democracia, onde falamos o que queremos, para pessoas que não querem ouvir, muito menos pensar, menos ainda agir. Saímos às ruas por alguns dias, cantamos o hino, quebramos algumas lojas (fora capitalismo!), reclamamos do preço do videogame. Tomamos porrada, uns apaixonadamente, outros indiscriminadamente. Sufocamos não pelo spray de pimenta, sufocamos o nosso grito em meio a ignorância.
Falta sangue correndo nas veias, falta veracidade, falta coração. Falta escola, falta médico, falta professor, falta descência. Falta justiça, falta lei, sobra culpado.

Falta amor.

Falta dizer na reportagem que o verde e amarelo das árvores de Natal são homenagem ao país, não a Copa.

Não falta estádio, falta transporte. Não falta segurança em região nobre, falta asfalto.
E desde sempre, falta vergonha na cara.

Não sou canhota, nem destra, muito menos enamorada dos tempos da farda, aliás, me enamoro sim um pouco daquele tempo, mas se trata de nostalgia de um povo que não conheci, onde o governo era ruim como sempre, mas os jovens eram de ouro, ah! Os jovens eram verdadeiros guerreiros. 

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