sexta-feira, 18 de julho de 2014

A guerra




Estávamos ambos emburrados, sentados em lados opostos da cama. Eu, com a maquiagem borrada de lágrimas. Ele, com as mãos no rosto, sem acreditar  que mais uma vez havíamos discutido.

- Eu não sei o que fazer, Cláudia. Há quanto tempo estamos brigando? - disse para mim.

Eu simplesmente não respondi por diversos motivos: birra, raiva, até mesmo ódio, mas, principalmente, porque eu não sabia. Sem pensar eu disse:

- É tudo culpa sua, Aroldo!

- Culpa do quê? - perguntou.

Eu olhei de canto para ele e disse:

- Você sabe.

E revidando o olhar ele me disse:

- Não, Cláudia. Eu não sei.

Naquele instante eu parei para pensar. O que ele tinha feito mesmo? Lembrei de uma série de coisas, eu até poderia escrever um livro inteiro, mas hoje... O que ele fez hoje? Eu não lembrava! Aí então eu percebi que tínhamos virado Israel e Palestina. A mãe dele, lógico, era o Hamas. A Marcinha do grupo de leitura que me deu este exemplo. Ela disse que chega uma hora que todo casal em crise vira Israel e Palestina: "no começo, até tinham motivos fortes para brigar. Hoje nem sabem o motivo da briga". Foram tantos os motivos que esquecemos todo o resto e ficamos nesta.

Nossa psicóloga, vou chamá-la de Dona ONU, fala, fala, fala e fala e não resolve. A mãe dele, digo, o Hamas, só toca o terror e espera que a casa caia de vez enquanto nós, bom, nós não dialogamos. Deixamos as bombas atacarem os civis. Esta cama virou Gaza. Até que tomei coragem, limpei as lágrimas dos olhos e disse:

- Eu não quero ser Israel!

Ele me olhou sem entender e eu simplesmente o abracei. Ele suspirou aliviado, o coração batendo forte, seguido de um beijo tão apaixonado quanto no dia em que nos casamos. Tudo ficou bem. O Hamas? Bem, o Hamas ainda existe, né? Mas já não causa tanto terror assim. Aroldo me perguntou o que eu queria dizer com aquilo de Israel e eu contei a história toda. Ele respondeu:

- Ainda bem que eu era a Palestina porque quem tinha razão era eu.

Eu disse que não e ficamos uma hora falando sobre isso, mas dessa vez sem bombardeios e feridos. Apenas comendo batata frita e rindo.

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