sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Direção

                    




Tá bom, tá bom, fui eu mesmo, seu guarda. Mas eu não tive culpa, sabe como é, né? Uma coisa leva a outra que leva a outra e quando eu fui ver, já era. Tava tudo aí do jeito que tá... que tá agora. Assim, eu nunca fui muito bom, digo, eu sempre fui bom, mas nunca tive... como fala? Não é educação, educação eu tive, estudei num colégio bom... aquele colégio que todo mundo vai pra USP depois, sabe? Eu mesmo estudei lá. Muito bom lugar... muito bom. O que eu tava falando? Ah, sim. Então, já tava lá. Quer dizer, fui eu, mas quando eu vi, já tava lá. E foi só um gole, te juro. Antigamente não tinha isso, meu pai mesmo me levou várias vezes pra lá e pra cá com uma lata na mão. E nem precisa tá bêbado pra fazer essas coisas. Quando eu tinha uma idade que eu era menor... eu não lembro agora, meu cachorro foi atropelado e o cara tava de boa, foi distração, sabe? Então não foi minha culpa, apesar de ter sido eu que fiz tudo isso aí. Epa, olha, olha, quê que é isso? Uma nota de cinquenta caída no chão? O senhor poderia pegar? Pera, pera... calma, sem violência, eu pego, eu pego. Olha, eu fiz e não fiz isso também, mas quer saber? A noite foi bem legal, eu conheci a Marcelle, aiai, Marcele, aquela menina é demais. Bom, foi bom conversar com vocês, agradeço a atenção. Como assim? Eu não vou não! Sabe com quem você tão falando? Sabe quem é meu pai? Se eu fosse vocês eu deixava do jeito que tá. Acha que eu vou pagar quantas cestas básicas? Sabe quanto tá cada uma? Hum... vou gastar muito mais comprando outro carro, menos mau. Que horas são? Eu viajo amanhã, vai me atrapalhar todo. Penso, claro que penso, na minha família. Ora, eu nem conhecia ele. Cara, não sei. Nem sei pra onde eu tava indo. Nem é direção da minha casa. Tô um pouco mal, não tô me sentindo bem. Ninguém vai chamar médico pra mim também? Gente egoísta. Quer saber? Vamo lá, chama meu advogado. Não dou três dias pra ir embora mesmo.

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